domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal ou Natan, como quiser

   Há cinco anos atrás eu era uma menininha de dez anos de idade, não tinha nenhum problema aparente com que me preocupar. O dia das crianças estava chegando, enquanto isso eu já estava na fase de não ver tanta graça nos brinquedos que essa data trazia. Meus pais e eu sempre gostamos muito de viajar e como era feriado, logo partiríamos. Parecia ser mais uma daquelas viagens normais, onde as pessoas eram normais, as coisas eram normais e nada poderia ser diferente do normal. Isso não me incomodava muito, se quer saber, eu já estava até acostumada. As coisas são ligeiramente mais fáceis quando estamos acostumados. 
   O primeiro dia não me animou muito, conheci umas duas ou três pessoas e elas eram normais, para variar. O dia seguinte era uma sexta feira e as coisas pareciam continuar as mesmas, até que uma daquelas pessoas normais me apresentou a um garoto, que de normal não tinha nada. Conversamos por uma ou duas horas talvez, não importa. O importante é que ali eu percebi que depois de anos, as coisas haviam mudado. Ele era diferente dos outros, me trazia sentimentos diferentes. Foram os três dias mais especiais que eu havia tido. Talvez ele não se lembre disso, mas no último dia de viagem, ele foi bater na minha porta para se despedir. Não entendi porque tinha feito aquilo, mas estava feliz, ele estava tomando sorvete e tivemos uma conversa rápida. Estávamos com vergonha provavelmente, ou talvez fosse só o meu nervosismo tomando conta da conversa. Lembro quando disse que me adicionaria no msn e eu parecia ter ganhado na loteria. Coisas de criança provavelmente você deve estar pensando agora.
   Hoje, depois de anos, analisando o que aconteceu, eu lembro das dúvidas que eu tinha sobre tudo aquilo. A maior delas era: "Como um cara cinco anos mais velho, sente algo por uma garotinha?". E eu sei que existe a probabilidade de ele realmente não ter sentido nada. Mas continuando... Quando voltei, lembro de ter me exibido algumas vezes para minhas amigas porque um garoto mais velho me adicionou no msn. Quanta bobeira, eu sei. Acho que algumas pessoas até enjoaram de me ouvir falar dele. Sei que muitas me achavam doida por pensar que poderia dar certo.
   Os anos passaram e em momento nenhum nos distanciamos completamente, é difícil entender por que isso aconteceu. Ainda nos vimos mais uma vez, lembro do meu nervosismo esperando que ele chegasse logo e o gelo na barriga quando me beijou no rosto. Nada demais aconteceu, nada... As dúvidas persistiram então. Nenhum dos dois pareciam querer conviver com aquelas dúvidas eternamente. Como seria o seu beijo? Se tivéssemos uma chance, daria certo? Talvez a culpa não seja só do destino, talvez a culpa tenha sido minha e do fato de eu ser cinco anos mais nova. Isso não é nada normal e para quem estava acostumado, o que não era normal não era aceitável. Resumindo, pais. Pode parecer engraçado agora, mas não era tão engraçado assim na época. 
   Não consigo esquecer meu desespero toda vez que ele resolvia aparecer com uma namorada nova. Não devia ficar feliz com isso, mas eu sorria quando lia que mesmo com elas, ele ainda preferia tirar a dúvida. Sabe, pode parecer loucura, mas nada impede um sentimento daqueles. De qualquer jeito, hoje estou escrevendo por um bom motivo. As coisas mudaram nesses cinco anos, mas acima de tudo o que aconteceu, sempre fomos amigos e não é isso que importa? 
   Agora eu achei o meu caminho, ele achou o dele. E nesse caminho, não estamos juntos. Pelo menos não no sentido que achávamos que estaríamos. Hoje é Natal e eu nunca acreditei tanto na magia que poderia haver nesse dia. Voltamos a conversar depois de alguns meses afastados. Não aguentei... Antes que ele pudesse sair, tive que dizer o que eu sinto agora. Foi mais ou menos assim: "Eu sinto saudade de conversar com você. Não sei se é porque você sempre esteve comigo direta ou indiretamente. Faz muito tempo que você me conhece... E eu sinto falta quando a gente se afasta. Você nunca deixou de estar por perto... Sei lá, queria que nossa amizade rolasse de vez, sem esses furos do tempo sabe? Alguém pra eu contar quando eu precisar, ou quando não precisar também. Porque eu confio em você,  eu gosto muito de você, como pessoa entende? Não queria te perder de novo...". Depois disso, ele me prometeu que desse vez nossa amizade daria certo.
   No final de tudo, eu aprendi que quando uma pessoa tem que especial, ela será de qualquer jeito. Mesmo que às vezes o destino pareça dizer não, porque o que nós sentimos sempre é mais forte que tudo. E se alguém ainda tem dúvidas se eu gostei do final. Parem de ser tolos, quem não gostaria de um final assim, feliz? A amizade é a maior dádiva que alguém pode ter, porque pessoas vem e vão, a amizade fica. Posso estar falando bobagem, mas a amizade é um dos sentimentos mais bonitos que podemos ter uns pelos outros.